CM-05. Chaves da autoridade espiritual

Não é raro ver que alguns irmãos entre nós têm medo de demônios. Alguém assim, por exemplo, fugiria  diante de uma pessoa endemoninhada e trataria de buscar ajuda de um obreiro ou pastor. Outros parecem crer que Deus e Satanás personificam uma eterna luta entre o bem e o mal, e que, como numa disputada partida de futebol, o bem faz o gol da vitória aos 45 minutos do segundo tempo, e ainda assim com a bola raspando no travessão. Outros ainda parecem conformar-se em ser saco de pancada do inimigo, e se acostumam com a idéia de viver uma vida cheia de derrotas, até que lá no final dela Cristo venha para endireitar as coisas. E ainda outros parecem ter vergonha do evangelho, pois vêem a Igreja como se ela fosse um clube social de quinta categoria, da qual os mais cultos e “nobres” naturalmente devem se afastar. Todas essas atitudes e situações, que acabam definindo uma vida religiosa medíocre, têm por trás de si o mesmo pano de fundo: a falta de revelação sobre a autoridade de Jesus, e a autoridade espiritual que temos por meio dEle. Note que estamos falando de revelação (no espírito) e não simplesmente de conhecimento (na mente). Por isso, ore para que o Espírito Santo lhe conduza às verdades que vamos tratar aqui sobre a questão da autoridade espiritual. Dividiremos esse tema em duas seções: autoridade espiritual coletiva da Igreja e autoridade espiritual individual do cristão.

A) Autoridade espiritual da Igreja

Jesus Cristo é a fonte da autoridade espiritual da Igreja. Certamente estamos familiarizados com as palavras de Jesus em Mt 28.18: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra, mas (muito provavelmente) ainda não compreendemos todas as gloriosas consequências práticas de tal fato. “Toda autoridade” significa autoridade absoluta, isto é, não sobrou autoridade para ninguém mais: ninguém pode comparar-se ou colocar no mesmo nível da autoridade de Jesus (com exceção, é claro, dAquele que Lhe concedeu tal autoridade: o Deus Pai). O Cristo glorificado foi elevado pelo Pai ao mais alto nível, no mais alto céu, entronizado como Rei e Senhor sobre toda criatura, incluindo todos os homens e todos os anjos, bons ou maus, os quais se prostrarão diante do Seu trono e reconhecerão Seu Senhorio (Ef 1.18-23; Fp 2.9-11; Hb 1.3-4). Diante de tamanho poder e majestade, até mesmo João, seu discípulo e amigo mais íntimo, que se reclinava sobre o peito de Jesus, caiu como morto (mesmo estando em espírito!) ao contemplar a glória do Cristo ressurreto (Ap 1.17).  Os anjos O adoram continuamente nos céus, os demônios tremem diante dEle. Quando chegar o momento correto, Jesus, o cavaleiro Fiel e Verdadeiro, com apenas um sopro de sua boca destruirá todos os homens maus e poderosos sobre a face da terra, e ordenará a um anjo (apenas um) que prenda Satanás, o astuto enganador dos incrédulos (2Ts 2.8; Ap 19.11-20.3).  Isso deveria ser suficiente para entendermos que o poder do nosso Senhor é absoluto: tudo está colocado debaixo dos seus pés (1Co 15.27; Ef 1.22). Portanto, todo o poder das trevas, Satanás e seu exército de anjos caídos, estão debaixo da autoridade de Cristo, e não podem fazer absolutamente nada sem sua permissão (Jó 1.12).

Mas agora vem algo que é de vital importância compreender: em Sua soberania, Deus nos colocou, como Igreja, no mesmo nível da autoridade de Jesus!

Em Ef 1.22-23 vemos que Deus estabeleceu Jesus como Cabeça da Igreja, a qual é o Seu Corpo. E sendo Seu Corpo, a Igreja deve refletir a plenitude de Cristo aqui na terra! Para deixar tal fato ainda mais claro, Ef 2.6 revela que nós, como Igreja do Senhor Jesus, fomos colocados (um fato já consumado) ao lado de Cristo na mais elevada posição do seu Reino Celestial!

E mais: Em Lc 10.1-19 Jesus transferiu formalmente sua autoridade aos discípulos. Eles simplesmente creram e exerceram tal autoridade, curando enfermos e expulsando demônios, ou seja: pela fé na Palavra de Jesus, manifestaram o Reino (domínio, governo) de Deus aqui na terra. E no livro de Atos vemos essa mesma autoridade sendo exercida pela Igreja, após o Pentecostes. De fato, quando a Igreja age como Corpo,   como representante legal do Cabeça que é Cristo, temos a garantia do próprio Jesus de que a vitória contra o inimigo é certa! (Lc 10.19; Mt 16.18; Rm 16.20).

Como Igreja, portanto, temos essa delegação de poder  para atuar em nome do Senhor Jesus, exercendo a plenitude da sua autoridade! Ef 3.20 revela de maneira   impressionante que Deus é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos (note o superlativo múltiplo), mas  observe bem que este poder é exercido por meio da  Igreja (segundo o poder que opera em nós.)!

Mas, então, por que é que muitas igrejas locais têm falhado (às vezes miseravelmente) em exercer tal autoridade? Fundamentalmente por causa de três impedimentos. Em primeiro lugar, por falta de fé no que Deus já revelou e prometeu em sua bendita Palavra. Em sua oração de abertura da carta aos efésios, Paulo afirma que a suprema eficácia do poder de Deus se manifesta aos que crêem (Ef 1.19). O segundo impedimento à manifestação do poder de Deus é a falta de unidade. Jesus nos ensinou a buscar o consenso, a concordância em nossas petições, pois o poder de Deus atua através da unidade do Corpo de Cristo (Mt 18.18-20). E o terceiro impedimento é a falta de amor. Deus não manifestará seu poder através da Igreja se ela for motivada pelo egoísmo, sem o genuíno amor ágape entre os irmãos, e destes para com o próximo. Por isso, a oração de Paulo pela Igreja é que ela receba revelação espiritual e, fundamentada na fé e no amor, possa exercer esse tremendo poder e autoridade do Reino de Deus, em toda sua plenitude (Ef 3.14-20).

Portanto, se crescermos em fé, amor e unidade, poderemos exercer vitoriosamente a autoridade que o Senhor Jesus nos concedeu, e faremos resplandecer a glória do Seu Reino em todos os aspectos da vida da igreja. Para isso, tudo o que precisamos fazer como povo de Deus é receber essa revelação no espírito, crer e agir de acordo com a mesma. Precisamos saber quem somos, o que Deus diz sobre nós, e qual é nossa autoridade como Igreja, em Jesus Cristo.

B)  Autoridade espiritual do cristão

Como membro do Corpo de Cristo, cada crente pode exercer autoridade individualmente, em nome de Jesus, ou seja, como embaixador dele aqui na terra.   Para que tal autoridade seja legítima, ela deve estar fundamentada na Palavra de Deus, sob a direção do Espírito Santo, e testificada por uma consciência limpa diante de Deus e dos homens. Cumpridas tais condições, cada cristão poderá exercer influência e autoridade em relação aos irmãos, aos incrédulos e aos demônios. Tratemos de cada um desses casos separadamente.

Primeiro: em relação aos demais irmãos, nossa autoridade espiritual individual pode ser usada para admoestar alguém que não esteja procedendo corretamente, isto é, corrigir algum irmão que esteja andando em pecado ou em falta de amor. Admoestar significa advertir, censurar ou repreender com mansidão; é aconselhar. Em Mt 18.15-17 Jesus ensina que não devemos fazer vistas grossas diante do pecado na vida de outro irmão. Antes, devemos praticar o diálogo e adverti-lo (Rm 15.14; 1Ts 5.14). Note também que a admoestação deve ser feita por qualquer irmão   (independente de sua posição ou idade) a todo irmão que seja merecedor da mesma (não importando a “posição hierárquica” ou condição de autoridade deste na igreja). Em Gl 2.11 vemos Paulo repreendendo severamente a Pedro. E olhe que Pedro era uma das principais colunas da “igreja-mãe” em Jerusalém, e Paulo era pelo menos uns 13 anos mais novo do que Pedro no evangelho. Mas é importante ressaltar que nossa motivação ao repreender um irmão deve ser o amor por ele e a preocupação com sua vida espiritual, e jamais o desejo de humilhá-lo ou de nos mostrarmos superiores ou “mais santos” (2Co 2.8).

Segundo: com relação aos que estão de fora do evangelho, a fonte de autoridade do cristão é essencialmente uma questão de testemunho de vida santa, honrada e honesta. Assim como a luz sempre resplandece nas trevas, o cristão consagrado sempre será um ponto de referência em meio aos incrédulos, seja em sua própria casa, família, escola ou trabalho (1Pe 3.1-2, 2.12; Fp 2.15). Cada um de nós é portador da luz divina, e nossas palavras de vida e sabedoria devem ser pronunciadas com mansidão (Cl 4.5-6; 1Pe 3.14-16), porém com autoridade e ousadia (2Co 3.12; 2Tm 1.7), procurando iluminar os corações endurecidos pelo pecado e abrir os olhos vendados pelo inimigo. Cabe ainda esclarecer que o “testemunho de vida” a que nos referimos aqui tem a ver apenas com o caráter do cristão, e nada a ver com um particular modo de se vestir, ou com o uso do “crentês” como forma de se expressar.

Finalmente, com relação aos demônios (além do que já discutimos sobre esse tema no curso “Consolidando a Fé Cristã”), basta reconhecer que Aquele que é maior está conosco (1Jo 4.4) e que, se estamos em Cristo, o Maligno não tem qualquer poder direto sobre nós (1Jo 5.18). O contrário é verdade: nós é que temos autoridade sobre os espíritos imundos (Tg 4.7; Ef 6.11-18). Cabe ainda ressaltar que expulsar demônios é uma questão de autoridade espiritual, pela habitação do Espírito Santo em todo e qualquer cristão, e não uma questão de dom espiritual especialmente concedido pelo Espírito Santo a certos crentes. Nas listas de dons espirituais que Paulo apresenta em Rm 12.6-8; 1Co 12.8-9, 28-30 e Ef 4.11 você não vai encontrar nenhuma referência ao “dom de expulsar demônios”, porque isso não vem de dom, mas da autoridade espiritual de que todo cristão é revestido, a partir do momento em que o Senhor Jesus o recebe em Seu Reino.

3 responses

  1. Muito bom, edificante, mas tm muitos cristãos que ainda entende que; só podem expulsar demônios se tiverem o dom. Mas não é isso que diz as escrituras.

  2. Muito edificante este estudo. Como diz a Palavra de Deus, o meu povo perece por falta de conhecimento… Deus os abençoe e os motive a postar mais estudos para que juntos possamos crescer em entendimento.

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