4. Como interpretar a Bíblia corretamente?

woman-reading-bible-op-800x533A má interpretação da Bíblia tem levado muitas pessoas a crerem em enganos e heresias. Por isso, é muito importante aprender alguns princípios sobre como interpretar corretamente o texto bíblico. Antes de tudo, cada vez que você for ler a Bíblia, faça o seguinte: em atitude humilde diante de Deus, peça ao Espírito Santo (que habita em você, pela fé em Jesus Cristo) que o leve à revelação e perfeito entendimento espiritual do que você vai ler (em 1Co 2.13-14 aprendemos que “as coisas espirituais se discernem espiritualmente”). E tenha sempre em mente o que vamos explicar a seguir.

Existem basicamente duas formas de interpretar o que a Bíblia diz: a alegórica (interpretação figurativa ou espiritualizada) e a literal (interpretação simples e direta). A interpretação alegórica não é recomendável, pois corre um grande  risco de erro, já que depende diretamente da pessoa que interpreta. A interpretação literal parte do “princípio de Lutero”: “As Escrituras são fáceis, claras e se interpretam a si mesmas.”  Esta afirmação faz muito sentido, pois o objetivo de Deus para as Escrituras é que elas revelem a verdade (de maneira fácil)  em vez de escondê-la debaixo de um montão de significados figurados que somente os “sábios e entendidos” podem compreender. Deus inspirou homens simples a escreverem de maneira simples para outros homens simples. De fato, um dia Jesus elevou os olhos aos céus e agradeceu ao Pai Celeste pela simplicidade da revelação divina (leia Mt 11.25).

 Para não cair em erros doutrinários, toda interpretação do texto bíblico deve observar as regras a seguir. Você deve usá-las em seu estudo da Bíblia, e também para julgar o que outras pessoas dizem ou ensinam sobre a Bíblia:

  1. A Bíblia não contém erros e jamais se contradiz. Se a Bíblia é a Palavra de Deus registrada por homens inspirados por Ele, então ela não pode conter erros.  Portanto, não pode haver diferença doutrinária entre um livro da Bíblia e outro.
    Por exemplo: alguém pode pensar que os apóstolos Paulo e Tiago ensinam coisas diferentes sobre a salvação: enquanto Paulo afirma que a salvação é pela fé (p. ex. em Ef 2.8-9), Tiago teria afirmado que a salvação é pelas obras (Tg 2.14,24). Mas um exame mais profundo mostra que há perfeita concordância entre os dois. Tiago nunca disse que só as obras (sem a fé em Jesus) são suficientes para salvar, pois ele diz: “eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” (Tg 2.18b). O que Tiago explica é que a fé que não produz obras não é a verdadeira fé, mas sim uma fé morta (Tg 2.17), um auto-engano que não pode salvar ninguém, pois é vazia em si mesma. E é claro que Paulo está de acordo com a necessidade de que os salvos pela fé devam produzir boas obras, como podemos ver em Ef 2.10, 1Tm 6.18 e Tt 2.7.
  2. A Bíblia interpreta a si mesma. Deixe a Bíblia interpretar a própria Bíblia (leia 2Pe 1.20). O sentido mais claro e mais fácil de uma passagem explica outra com sentido mais difícil e mais obscuro. Faça uso das referências cruzadas ou passagens paralelas (citações de outros versículos relacionados com o texto), presentes na margem ou no rodapé da maioria das traduções. Sempre prefira a explicação que uma parte da Bíblia dá a outra parte dela mesma.
    Por exemplo: a Bíblia afirma claramente em Gn 17.1, Gn 18.1 e Nm 12.6-8 que Abraão e Moisés viram a Deus face a face (sem ser em sonho). O mesmo aconteceu com Josué (Js 5.13-6.2), Gideão (Jz 6.12-24) e Jacó (este teve até contato físico com o SENHOR, conforme Gn 32.24-30). Entretanto, a Bíblia também diz em Ex 33.20, Jo 1.18, 5.37, 6.46 e 1Tm 6.15-16 que nenhum homem jamais viu a Deus. Como pode ser? A própria Bíblia explica, se a entendermos de maneira direta e simples: em Jo 6.46 Jesus afirma que nunca ninguém viu o Pai Celestial. Em Jo 1.1, Rm 9.5 e Hb1.3 os apóstolos declaram explicitamente que Jesus é Deus. E em Jo 8.58 e 17.5 o próprio Jesus afirma que ele já existia como Deus, ao lado do Pai. Jesus também afirmou que quem vê a Ele, também vê o Pai (Jo 14.9). Portanto, o Deus Todo-Poderoso que Abraão e Moisés viram face a face era Jesus antes de sua encarnação, e não o Pai.  De tudo isso também podemos concluir que a Divindade possui mais de uma pessoa, e que, portanto, a doutrina da Santíssima Trindade (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) é verdadeira.
  3. Interprete o texto dentro do contexto. Nenhum versículo da Bíblia deve ser interpretado de maneira isolada. Para concluir o que o autor tinha em mente ao escrever um texto, leia sempre o que vem antes e o que vem depois. Leia também todo o livro. E leve em conta a época e as circunstâncias nas quais o autor escreveu o texto. Por exemplo: uma interpretação isolada de Fp 4.13 (“tudo posso naquele que me fortalece”) tem levado alguns pregadores da chamada “Teologia da Prosperidade” a fazer a afirmação errada de que todo crente em Jesus pode “determinar” qualquer coisa, inclusive tornar-se milionário (e se isso não acontecer, é porque a pessoa não tem fé). Entretanto, se levarmos em conta que Paulo escreveu a carta aos filipenses estando numa prisão romana (que não devia ser nenhum hotel 5 estrelas), dependendo de doações de dinheiro dos irmãos para sobreviver (veja os versículos 10 e 14-18); e se lermos também os versículos 11 e 12 (faça isso agora) vamos compreender o verdadeiro ensino precioso que Paulo procurava transmitir à igreja: não importa quão difícil seja a situação pela qual passemos, podemos suportar e superar tudo, pois é o próprio Cristo quem nos dará forças para vencer.
  4. Prefira sempre a interpretação literal. Literal significa “ao pé da letra”. Busque sempre o significado mais simples e direto do que diz o texto, a não ser que se trate claramente de linguagem figurada. Deus revelou a Sua verdade através dos meios normais da linguagem humana. Assim, o sentido literal normal da Escritura deve prevalecer. O Dr. David L. Cooper sabiamente observa:  “Quando o sentido claro da Escritura faz sentido, não procure  nenhum outro sentido, mas tome cada palavra em seu sentido literal primário (a menos que os fatos do contexto imediato claramente indiquem de outra forma).” Por exemplo: Em Gênesis 1 a Bíblia diz que Deus criou o mundo em seis dias. O texto deixa claro que “dia” significa “uma manhã e uma tarde”, sob o efeito do sol e da lua que Ele criou para esse fim (leia Gn 1.16-19). Também está claro que o conjunto de dias define as estações e os anos (v. 14). Isso é a linguagem comum, que qualquer pessoa simples pode entender (e crer). O problema é que a interpretação literal do texto nega completamente o que ensina a maioria dos cientistas modernos para explicar a origem da Terra e o surgimento dos seres vivos (a teoria do “Big Bang” e a teoria da evolução, ensinadas como fato nas escolas). Por isso alguns teólogos, não querendo parecer antiquados e “anti-científicos” aos olhos de tais cientistas, procuram fazer uma interpretação figurada do que diz a Bíblia: os seis “dias” na verdade seriam seis “eras” muito longas, e nelas teria ocorrido a evolução dos seres vivos. Entretanto, cientistas cristãos fiéis à interpretação literal (e até mesmo cientistas não-cristãos) têm acumulado evidências científicas irrefutáveis de que a Terra não tem mais do que 10 mil anos de idade, de que os seres vivos são resultado de um projeto inteligente (e não obra do acaso), e que a Bíblia, mais uma vez, revela a verdade quando a lemos de maneira direta, simples e literal, sempre que for aplicável (veja, por exemplo, a referência [1]).
  5. Consulte outras fontes confiáveis. Caso o texto seja de difícil interpretação, procure outras fontes dignas de confiança, tais como outras traduções, bíblias de estudo comentadas por mestres da Palavra e comentários bíblicos. Existem vários livros (e websites) especialmente escritos para esclarecer os aparentes “erros” ou “contradições” da Bíblia. Consulte também outros irmãos com maior conhecimento das Escrituras.

Tenha também em conta que a Bíblia é um livro de revelação progressiva. Certas regras e práticas estabelecidas na “Velha Aliança” (as leis que Deus passou ao povo judeu no Antigo Testamento) não se aplicam à Igreja que Jesus Cristo edificou sob a Nova Aliança (o Novo Testamento). Tudo o que foi escrito na Bíblia, foi escrito por nossa causa, isto é, para nosso ensino e proveito, mas nem tudo o que foi escrito na Bíblia foi escrito para nós, os cristãos. Portanto, não tente aplicar como lei tudo o que diz o AT, quando é o NT que está vigente hoje. Isso só o levaria a repetir o fracasso dos judeus  ao tentar viver um padrão divino de vida por meio do esforço legalista humano.

E nunca se esqueça de que a Bíblia é divinamente inspirada, e que Deus nunca falha. Se algum “erro” for encontrado na Bíblia, será sempre do lado humano, como tradução mal feita, grafia inexata, interpretação forçada, má compreensão de quem estuda, falsa aplicação quanto aos sentidos do texto, ou qualquer outro engano humano, intencional ou não.

Finalmente, podemos concluir que:

1. A Bíblia Sagrada deve ser recebida como autoridade suprema em todas as coisas pertinentes à vida e ao nosso relacionamento com Deus, e em todas as questões de ensino, de repreensão, de correção e de instrução na justiça de Deus (Mt 5.17-19; Jo 14.21, 15.10; 2 Tm 3.15-17).

2. Ninguém pode ter Jesus Cristo como Senhor sem guardar seus ensinamentos e obedecer seus mandamentos (Jo 6.46; 8.31,37; 14.15,21; 15.10).

3. Devemos firmar-nos na Palavra de Deus para vencer o poder do pecado, de Satanás e do mundo em nossas vidas (Mt 4.4; Ef 6.12-17; Tg 1.21).

4. Devemos amar e proteger as Escrituras contra deturpações e falsas doutrinas (Fp 1.16; 2 Tm 1.13,14, 2.2; Jd 3).

5. Ninguém (nenhum homem e nem mesmo um anjo) tem autoridade para acrescentar ou subtrair qualquer coisa das Escrituras, por mínima que seja a alteração (Dt 4.2; Gl 1.8; Ap 22.19).

REFERÊNCIA:

[1] http://www.allaboutcreation.org/portuguese/ scientific-worldviews–por-1274.htm

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