Na Bíblia, dinheiro é um assunto muito espiritual. A avareza é comparada à idolatria, o mais abominável dos pecados, condenado por Deus de Gênesis a Apocalipse (Cl 3.5, Mt 6.24, 1Ti 6.10). Por isso, já desde os tempos da Velha Aliança, Deus prova o coração dos homens ordenando-lhes que ofertassem ao Senhor os dízimos e ofertas para sustento dos levitas, uma das doze tribos de Israel que não tinha terras como herança, e que se dedicava exclusivamente a manter o tabernáculo (depois, o templo) e todos os ritos cerimoniais da lei de Moisés. Mas será que dar o dízimo é obrigatório para os cristãos dos dias de hoje?
É inegável que o Novo Testamento (NT) faz um silêncio misterioso sobre a questão da Igreja dar o dízimo. Enquanto que no Antigo Testamento ocorrem mais de 70 referências ao dízimo, o NT menciona essa palavra em apenas três passagens: duas para censurar a hipocrisia religiosa daqueles que dão o dízimo com um coração orgulhoso e sem misericórdia (Mt 23.23/Lc 11.42 e Lc 18.12), e uma para demonstrar a superioridade da Nova Aliança sobre a Velha (Hb 7.2-9). Portanto, vemos que no NT não existe nada sobre a obrigação de que a igreja deva dar o dízimo. Qual será a razão desse silêncio? Continue lendo…
Alguns cristãos da atualidade, de coração apegado ao dinheiro, usam aquele fato para justificar biblicamente sua avareza, e assim estarem livres de contribuir financeiramente para o sustento da obra de Deus. Mas na verdade, viver na Nova Aliança pelo sangue de Cristo significa reconhecer que éramos escravos da iniquidade e condenados à morte, mas Jesus pagou com seu próprio sangue a infinita dívida do nosso pecado, nos trouxe para a luz do seu Reino, nos deu vida eterna e assim fomos comprados pelo Senhor, passando a ser de fato seus servos e escravos da sua justiça (1Co 7.22; Rm 6.20-23). E escravo não tem nenhum direito de propriedade. Isso significa que até a nossa própria vida já não pertence a nós mesmos! (1Co 6.19, 2Co 5.15). Portanto, se você é cristão e foi resgatado pela fé pelo sangue de Jesus, os seus bens materiais e o seu dinheiro, que fazem parte da sua vida, também já não lhe pertencem; você é apenas um administrador dos bens materiais que Deus colocou sob sua responsabilidade. Tudo é do Senhor, pois dEle, por Ele e para Ele são TODAS as coisas (Rm 11.36; 1Co 8.6).
Essa salvação maravilhosa, o dom gratuito da vida eterna e todas as inefáveis bênçãos espirituais que já recebemos em Cristo deveriam ser motivo suficiente para encher nosso coração de profunda gratidão, alegria e amor a Deus, a ponto de voluntariamente darmos muito além de dízimos e ofertas para a obra da Igreja de Cristo. Somente assim podemos compreender por que os primeiros cristãos consideravam que as propriedades que tinham não eram exclusivamente suas, mas chegavam a vender seus bens e entregar todo o dinheiro aos pés dos apóstolos (At 2.44-45, 4.33-35). Esses grandiosos atos de amor (que assustam nossos olhos materialistas) aconteciam porque os cristãos primitivos tinham sua visão colocada na eternidade; eles sabiam que procedendo assim estavam depositando tesouros no Reino Celestial (Lc 12.32-34; Mc 10.21).
Portanto, o único motivo biblicamente correto para que os cristãos ofertem dinheiro voluntariamente para a obra, é a revelação espiritual da salvação e da vida eterna em Cristo, e o amor a Deus que essa revelação produz (2Co 8.1-5, 9.7). Essa é a atitude correta de um coração convertido ao Senhor Jesus Cristo. A Ele devemos nossa própria vida!
Embora a “lei da semeadura” seja uma promessa da Palavra de Deus aos que ofertam para sustento da obra (2Co 9.6-10), ninguém deve ofertar movido pelo interesse ou necessidade financeira, tentando fazer negócio com Deus (2Co 9.7). Esse é o perigoso “anzol” com o qual os pregadores da “teologia da prosperidade” têm procurado fisgar contribuintes. Mas estimular a doação sem atentar para a condição correta no coração é uma prática estranha ao evangelho, e chega a ser uma heresia.
Por outro lado, muitos pastores tentam arrecadar dinheiro das ovelhas através do medo, ameaçando com maldição os que se recusam a dar o dízimo. Para isso, usam de maneira equivocada a lei de Moisés (Ml 3.8), cuja aplicação ao pé da letra é somente para o povo judeu. A propósito: muitos dos que defendem que o dízimo é obrigatório para a Igreja, embora reconheçam que a Lei de Moisés não se aplica à Igreja, com frequência usam o argumento (como eu mesmo já fiz no passado) de que o dízimo antecede a Lei, pois Abraão, antes que fosse promulgada a Lei, deu dízimo ao sacerdote Melquisedeque (insinuando com isso que os cristãos de hoje devem dar 10% do que ganham a seus “sacerdotes”). Se esse argumento fosse válido, os mesmos “sacerdotes” da atualidade deveriam sacrificar cordeiros e novilhas ao Senhor, porque o sacrifício de animais também antecede a Lei, remontado-se à primeira geração de homens sobre a face da terra (em Gênesis, vemos que Abel sacrificou do seu rebanho ao Senhor).
Concluímos então que não é por interesse, nem por necessidade de recompensa material e nem por ameaça de maldição que um cristão deve motivar-se para ofertar, e sim porque entende quem é Jesus em sua vida, e qual é a sua vida em Jesus. Se alguém endurece o coração na questão de dar parte do que ganha para cobrir as reais necessidades materiais da igreja local, o problema dessa pessoa é a conversão, e não a doação. Nesse caso, enquanto não houver quebrantamento, arrependimento e real conversão, é melhor não dar nada, pois Deus não recebe sacrifício com defeito (de coração, nesse caso). Portanto, quem já tem compreendido pelo Espírito Santo que sua gratidão e adoração ao Senhor devem manifestar-se também na questão das ofertas financeiras, será generoso nas ofertas para a obra de Deus, tendo certeza de fé que o nosso Pai Celestial suprirá de maneira infalível tudo o que precisamos! Leia Mt 6.25-34.